Ensaio Infantil

Lar Do Miguel

Acompanhamento Mensal Miguel Nove meses

O lar do Mig 

Cheguei cedinho, com a câmera na mochila e o coração aberto

Naquele dia, a casa do Miguel estava calminha e cheia de amor. A mamãe escolheu com carinho a roupinha dele. E eu fico pensando o quanto isso é especial… um pequeno gesto de amor, que mais tarde ele vai ver e sentir: “olha como eu era cuidado, olha o quanto pensaram em mim.”

O quartinho dele… ah, o quartinho! Foi feito com tanto carinho… cada pedacinho foi sonhado antes mesmo dele nascer. O bercinho, o papel de parede de bichinhos que ele ama olhar, os ursinhos… tudo ali é dele. É o lugar onde ele cresce, aprende, dorme, sonha. É um ninho. É onde ele começa a entender o que é o mundo e o que é amor.

O Mig adora mexer em uma plantinha da sala. A mamãe me contou que esses dias ele se esbaldou, cavando a terra com as mãozinhas. Fotografar essa planta parece simples, mas não é. É sobre lembrar. É sobre contar essa história pra ele mais tarde, rir juntos. É sobre ver a foto e dizer: “teve um dia que aconteceu isso, filho” e ele talvez não lembre, mas vai ouvir tantas vezes que vai criar essa memória em sua imaginação.

Essas imagens guardam mais do que um momento. Elas guardam sentidos. Histórias. Verdades pequenas da infância que com o tempo se escondem no fundo da memória.

Mamãe preparou o “mamam” do Mig. Papai sentou à mesa com eles, como fazem todos os dias. E ali estavam, em família. Simples. Verdadeiro. Lindo. Eu fotografei aquele momento como se estivesse criando um tesouro, e é. O pratinho, a colherzinha, o jeitinho que ele come. Quem lembra dos seus talheres de infância?    

O gato Pirulito apareceu, como quem diz: “ei, eu também quero participar!”. A gaveta de brinquedos se abriu, o caranguejo acendeu as luzinhas, o controle da TV entrou em cena. Cada objeto tem uma história, um afeto.
Essas fotos são sobre isso. Sobre o que é real. Sobre esperar. Sentir. Sobre tirar os olhos do relógio e colocar o coração nas coisas. Sobre viver o presente
E é aí que mora a verdadeira riqueza. Está no que é de verdade. Nos gestos espontâneos. Nos detalhes que parecem simples, mas que carregam significados imensos.
Talvez daqui alguns anos os móveis da casa já não estejam mais lá. Talvez a decoração mude. Mas vivemos tantos anos com as mesmas coisas ao nosso redor que elas viram parte da nossa história. Elas guardam memórias, como gavetas fechadas no fundo da alma.
E às vezes, tudo o que precisamos pra abrir essas gavetas…
é olhar uma fotografia.
É por isso que esse trabalho é tão valioso. Ele não inventa. Ele revela. Ele guarda o que é verdadeiro.
O Miguel talvez não lembre de tudo isso no futuro.
Mas ele vai ver. Vai sentir. Vai saber.
Que foi amado em cada detalhe.
E eu… enquanto fotografava… fui voltando pra minha própria infância. Vieram lembranças que só vivem em mim. E por isso mesmo doeu.
Aquela dor boa de saber que foi bonito… mas com medo do dia em que eu não me lembrar mais.
Porque a gente vive tanto, mas lembra de tão pouco…
E são essas memórias que mostram que a vida foi linda, mesmo nas coisas mais simples.